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Conversas Furtadas #02: A filosofia de Chaves

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Olha só quem apareceu! Eu! Não contavam com minha astúcia! Para uns, um seriado idiota. Para outros, uma pérola de filosofia. Chaves divide opiniões: ame-o ou odeie-o. Todavia, o universo criado por Roberto Gómez Bolaños acabou sendo uma analogia a filosofia! Como assim? O que vou expor aqui é muito interessante, e serve para os detratores do seriado refletirem e questionarem as suas opiniões.

“Procuro um homem”. Essa era a frase característica do filósofo grego Diógenes. Como o Chavinho, ele vivia dentro de um barril, demonstrando que o homem precisa de pouco para viver. Chaves vive com muito pouco na vila. Diz que mora no apartamento 8, mas jamais alguém foi ou viu o menino no apartamento. Ávido por sanduíches de presunto, fica indignado quando alguém joga comida fora. Sem ganhos, trabalhou como engraxate, jornaleiro e garçom. O que é, infelizmente, uma situação comum a milhares de crianças em todo o mundo.

Diógenes não falava a frase citada a toa. Ele procurava um homem que vivesse com pouco e se contentasse com isso, superando convenções ou luxos materiais. Se vivesse na sociedade contemporânea do século XXI, certamente acharia muitas pessoas que vivem como ele. A vizinhança do Chaves é um retrato desse pensamento, todos convivem com a falta de dinheiro. Seu Madruga deve aluguéis ao Senhor Barriga. Dona Florinda desceu de classe social após a morte do marido. Dona Clotilde vive modestamente. O único abonado é o presunto com patas…

Certa vez, Diógenes disse que era “uma criatura do mundo”. Sua alimentação se resumia ao que conseguisse colher e usava um manto para dormir. Chaves era órfão. Segundo o livro “Diário do Chaves”, após fugir do orfanato, ele vivia pelas ruas, como demonstra essa passagem:

“Caminhei por muitas ruas que não conhecia. Não eram ruas muito bonitas, como as que aparecem nos filmes da televisão; mas também não eram muito feias, como as que também podemos ver na televisão.”

Sobre o barril, Chaves conta:

“Pouco depois chegou outra pessoa para ocupar a casa 8 e tive de sair dali. Porém, como eu já tinha muitos amigos na vizinhança, um dia me convidavam pra dormir em uma casa, outro dia em outra. E é assim até hoje. Porque não é verdade que vivo num barril, como dizem uns e outros por aí. O que acontece é que me escondo no barril quando não quero que percebam que estou chorando. E também quando não quero ver ninguém. Ou quando tenho muita coisa pra pensar”

Diógenes pregava que os animais (no caso, humanos) não precisam de conforto para viver. Chaves se escondia num barril velho porque ali era o seu refugio da vizinhança. Ali pensava, ali se questionava. De certa forma, o claustro faz o menino refletir sobre o seu cotidiano e a sua posição dentro da sociedade, mesmo sendo apenas uma criança.

O filósofo Mário Sérgio Cortella apresentou essa semelhança entre a filosofia cinica de Diógenes e o contexto da vizinhança do Chaves em entrevista ao programa Agora é Tarde, da TV Bandeirantes, em 2013 (leia mais sobre este programa aqui):

Talvez Chespirito não tenha percebido a filosofia e a analogia ao mundo de Diógenes ao criar Chaves, mas há uma semelhança. Então, quando alguém disser que Chaves é um programa para retardado, explique a filosofia que há por trás dos cenários de papelão e da imagem envelhecida.

seumadruga

3 Comentários

  1. victor235

    Ótima coluna. Ano passado também tratei deste assunto.

    • Obrigado, Victor. Até eu, que sou crítico ao meu trabalho, gostei de fazer essa coluna… li a sua também. Muito boa!

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