terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

O SUPÉRFLUO É ESSENCIAL

Terminei este final de semana de ler o livro do Tostão: A Perfeição Não Existe.  Logo que eu o vi numa livraria aqui em Aracaju em 2012 eu o comprei e desde então venho lendo aos pouquinhos – como doses homeopáticas receitadas pelo Dr.  Eduardo Gonçalves de Andrade.
Eu não tive o privilégio de ver Tostão jogando futebol – quando eu comecei a me interessar pelo ludopédio, lá pelo final dos anos 1970, ele já não frequentava os gramados – ficou o mito.
E com essa referência tomei o volume na livraria e resolvi me dar à sua leitura, já ali em pé mesmo.
Mas quem é Tostão?  O jornalista Juca Kfouri, que prefaciou o livro, assim o descreve:
Tostão foi um dos maiores craques que eu já vi.  E ele escreve como jogava.  Também em suas crônicas, consegue enxergar o que nós nem suspeitávamos e resolve tudo com simplicidade minimalista e delicadeza tocante.
O livro é uma "seleção das colunas publicadas na Folha desde 2000".  Mas como também não tive a oportunidade de ler no veículo original, para mim, todas eram inéditas.
E as li com gosto.  Então por que só terminei agora?
Como disse, os olhos percorreram as primeiras linhas ainda na livraria, só que a citação das pílulas homeopáticas, lá no primeiro parágrafo, foi só para apontar o autor.  Na verdade não me pareceu remédio a ser tomado de forma obrigatória e necessária.  Estava mais para uma caixa de bom-bom que um menino ganha e, para que não acabe logo, fica se deliciando aos poucos, um a um, os doces.  Tentando fazer render o máximo.
Assim eu fui lendo que a perfeição pode até não existir, mas que com um pouco de simplicidade e uma exorbitância de genialidade dá para chegar perto.
Coisa que só quem brincou como menino pode entender.
E entre várias boas tiradas do Tostão encontrei esta: o supérfluo é essencial – numa crônica de janeiro de 2009 em que trata de objetivos e objetividade, citando Millôr Fernandes e Nelson Rodrigues.
Só as companhias já valem o proseado!
Como pastor e escrevinhador – é isso que tenho sido – futebol para mim está longe de ser essencial.  Mas gosto de ver e ouvir gente que trata o assunto com profunda seriedade, mas sem nunca esquecer que é apenas futebol.
Tostão fez isso com a maestria que lhe é devida.
Futebol é realmente supérfluo, mas tratado como foi, acrescentou muita bagagem em meu repertório cultural e humano.  E com ele pude caminhar mais alguns passos.
O próprio Mestre Jesus já havia ensinado que a vida é mais que o alimento.  Nossa humanidade consiste em subsistência, trabalho, anseios, expectativas, mas também sonhos, beleza, arte, paixão.
Repito: coisa que só quem, depois da aula, escolheu correr atrás de uma bola ao invés de um prato de comida sabe o que é.
Então, que me perdoem a heresia, mas o futebol bem pode servir de metáfora para isso além de nós, e que nos faz humanos!
É verdade que futebol não coloca feijão na minha panela – como de resto para a maioria de nós – mas depois da magia da bola nos pés de um menino só resta concordar com a verdade que a perfeição não existe, mas para ser tornar como criança (insisto na citação de Zc 8:5 e Mt 18:3) é preciso reconhecer que o supérfluo é essencial.

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