sexta-feira, 1 de julho de 2011

ENXERTADOS

De vez em quando as pessoas comentam, tanto pessoalmente quanto por mensagens, o meu uso frequente de figuras, metáforas, alegorias, parábolas e outras estratégias de linguagem.  Confesso: — Gosto de transitar por tais trilhas, mesmo correndo o risco de por vezes me perder entre elas.  E saiba que isso não é de hoje.
Sei também que não estou sozinho.  Toda a Bíblia está salpicada delas.  Jesus as usou como recurso utilíssimo em seu ministério.  Com elas o Mestre podia tornar seus ensinamentos mais claros, leves e belos.  Ainda ajudava a fazer seus discípulos lembrar, compreender, assimilar e encarnar cada aspecto peculiar de sua mensagem.  E como é bom me saber herdeiro de tal tradição!
O apóstolo Paulo foi outro que trabalhou tais recursos.  É lógico que ele não se referiu a jacas ou sorveterias – ele nem as conhecia em seu contexto – mas como soa familiar pensar em corpo de Cristo (como pode ser lido em 1Co 12:12 em diante, por exemplo), ou em vasos de honra (em 2Tm 2:20-21), ou ainda em estrelas brilhantes (em Fl 2:15)!  Além do uso extraordinário de figuras e relatos históricos (como, por exemplo, Sara e Hagar em Gl 4:21-31).
Desta feita, deixe-me dar um destaque especial a uma outra figura que o apóstolo usa escrevendo aos romanos: o ramo bravo enxertado na oliveira cultivada (confira em Rm 11:11-24).  Se formos olhar acuradamente e bem de perto, com certeza vamos perceber que cada detalhe desta metáfora remete a outras figuras e arquétipos já bem conhecidos de judeus e cristãos recém-convertidos de então.  Só que aqui não quero fazer esse tipo de exame clínico; creio que basta apenas deixar o texto falar para que ele próprio se faça brotar.  Em resumo, Paulo está nos dizendo:
Deus cultivou a nação de Israel e a preparou para ser habitação cultivada e a portadora da revelação maior do amor do Pai a toda humanidade e agora – independente da rejeição ou não dos judeus – nós fomos enxertados na lavoura divina.
Na qualidade de enxertado que sou, pois nasci gentio e fui acolhido na oliveira, quero só fazer três apontes às palavras apostólicas:
Em primeiro lugar que Deus, como agricultor soberano, tratou com carinho, paciência e determinação aquele povo que ele mesmo escolheu para plantar, tornando-o pronto e aceitável aos desígnios eternos de amor, graça e bondade (note que Jesus usa uma metáfora similar em Jo 15:1-5).
Segundo, reafirmo que em tal enxerto nada mais há que demonstração de graça e benevolência imerecida.  E no meu caso muito mais.  Nada havia em mim para que Deus se dignasse a me colher entre outras oliveiras bravas e me colocasse com eficiência e prontidão no meio dos seus planos (considere Ef 2:1-9).
E por conta destes anteriores, um terceiro aponte é que, como ramo enxertado na oliveira cultivada, hoje sou igualmente herdeiro de toda sorte de bênçãos espirituais que ao longo da história Deus prometeu e garantiu aos seus (ainda é Paulo quem enfatiza tal assertiva em Rm 15:27 e Ef 1:3).
Assim, hoje me aproprio desta metáfora com grande alegria e motivos infindáveis de louvor a Deus por saber que ele mesmo, tendo me encontrado perdido entre oliveiras bravas, tudo preparou para, pela sua graça, me outorgar bênçãos perenes, enxertando-me na sua história da salvação.  Aleluia!

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